Quando falamos em metaverso existe uma tendência de pensar em tecnologia. Óculos de realidade virtual, realidade aumentada, avatares, milhões de dólares investidos em terrenos virtuais, NFTs, criptomoedas, disputas por tecnologia 5G, e inúmeras telas, dispositivos. No mundo do live marketing e dos eventos, porém, o metaverso é menos sobre apertar botões, e mais sobre as emoções que as experiências despertam nas pessoas.
Minha proposta, portanto, é que para falar sobre o assunto deixemos, pelo menos por alguns minutos, a ciência das máquinas e dos softwares para engenheiros e programadores. O nosso 5G é G de gente. Nosso “verso” de metaverso está mais próximo da palavra grega que deu origem à “poesia” e significa a arte de construir, ser criativo e original.
Um conceito associado ao que se revela aos poucos, joga luz sobre sensações, sentidos, que fez o filósofo alemão Martin Heidegger definir essa criatividade poética como uma experiência que ilumina as pessoas. E o metaverso somente fará diferença na vida das marcas se for assim: com os holofotes direcionados para a experiência.
Para isso, antes do que um objeto fixo, a melhor forma de enxergar o metaverso é como um processo vivo e em constante fluxo. Em vez de imaginá-lo como um lugar, repensá-lo sob a forma de movimento. Um metamovement em que jamais devemos nos contentar com o local onde fincamos os pés, mas navegarmos em um mar de crescentes possibilidades. Da mesma forma que recursos da internet em si, todas as mudanças não vão aparecer de uma vez só. Hoje, ainda estamos vivenciando o seu início, com a expectativa de que há um oceano a emergir.
A tecnologia será importante para nos transportar em direção a esse novo mundo. No live marketing, seu pilar primordial, no entanto, não estará nos bytes, nos chips, ou no touch screen. Por mais que as novas possibilidades gerem curiosidade, causem espanto e nos mobilizem, o sucesso da interatividade com as marcas continuará a depender do touch your heart. A energia que vai mover o interesse das pessoas no metaverso será a força da emoção, do que é espontâneo e transformador.
De acordo com o autor Joseph Pine e seu modelo de Progressão do Valor Econômico, a experiência não é uma oferta intangível. Ela serve ao propósito real de um negócio, tanto quanto um produto ou serviço, não devendo ser tratada como um bem dispensável.
O metaverso, assim como o cenário que o precedeu, vai se fortalecer como um campo onde as marcas competirão para entregar propósito e valor aos seus clientes por meio da experiência. É por isso que, se nos encantamos com a evolução digital, também precisamos atualizar estratégias para pensar caminhos, processos, relacionamentos e tudo o que diz respeito ao lado humano do live marketing, dentro desse novo contexto.
Pensar e repensar o desenho de uma experiência, cuidando dos seus impactos sobre os nossos sentidos não é algo novo. Há pelo menos 6 mil anos, o Feng Shui já associava orientação espacial e design à harmonia e equilíbrio de emoções. Há 4,5 mil, os gregos entendiam a importância da ergonomia para o corpo humano. Levar em consideração ambientes físicos e virtuais, bem como a nossa maneira de experimentar o melhor do que cada um oferece, não foi uma discussão isolada durante a pandemia. Foi como o anúncio de uma ordem que será reforçada com o desenvolvimento do metaverso.
Nesse novo tempo, as marcas precisam entender que as dimensões e os elementos estão em expansão irreversível. Aqui e lá, agora e depois, eu, você, nós. Esses conceitos estão se tornando mais fluídos e flexíveis. E se não houvesse mais fronteiras limitadas pelo ambiente físico? E se a sua marca pudesse criar experiências sob demanda, compartilhar momentos que poderiam ser experimentados a partir de qualquer lugar, como se estivessem acontecendo todos juntos e em tempo real?
As melhores histórias não são contadas para a gente, elas acontecem com a gente. Dessa forma, no metaverso, o cliente, o usuário, o convidado, o parceiro, seja ele quem for passa de mero observador da narrativa à condição de protagonista. Suas experiências ganham vida em mundos, realidades diversas e a oportunidade de gerar engajamento sem limites de tempo e espaço, transformando a maneira de trabalhar, se entreter, se relacionar, atrair indivíduos e formar comunidades.
Se de um lado a transformação digital promove a convergência de diferentes mídias, a experiência que devemos almejar no metaverso promove uma convergência mais ampla. A oportunidade de reunir saberes, percepções, sensações, tecnologias e, principalmente, pessoas.
Sua marca está preparada?