Rafael Esper, diretor criativo da GPJ Brasil para a Forbes Brasil

O metaverso já está entre nós – e há algum tempo 

De acordo com muitos, o metaverso seria uma espécie de “ponto de chegada”, um “lugar” ou ainda “um produto” idealizado por gigantes da tecnologia. O conceito é bem mais amplo: é uma jornada que já estamos trilhando há algum tempo e que nos últimos anos assumiu um ritmo acelerado. Olhando deste modo, já estamos no metaverso e ele está longe de ser um projeto mal sucedido.

O conceito de metaverso como um lugar que acessamos através de óculos é bastante limitante. Mais interessante, é entendê-lo como uma camada a mais dentro do universo em que vivemos. Uma reunião por videoconferência é uma evolução imensa que as pessoas não dão o devido valor. Hoje, equipes inteiras de trabalho conseguem estar em três países em uma mesma semana sem sair do Brasil, dirigindo execuções físicas e direcionando complexas operações de forma seamless, mesmo com as tecnologias atuais.  

Tudo isso são grandes e importantes ensaios para o metaverso. Mas ele não tem uma forma fechada e definida. Talvez estejamos acessando as primeiras camadas deste novo universo, mas as coisas estão se movendo rápido e sem sinais de trégua.

É um caminho sem volta, pois todas as tecnologias do metaverso seguem evoluindo 

Assistimos um avanço contínuo em realidade virtual, realidade aumentada, computação em nuvem. Todas essas tecnologias são motores que irão ajudar a potencializar esta experiencia. A META já está em seu terceiro modelo de óculos, o Meta Quest 3. Os elementos que compõem o metaverso, como a IA, a IA Generativa e, principalmente, as tecnologias imersivas, estão evoluindo de forma veloz. Mas as pessoas encapsularam o metaverso em uma expectativa cultural de que ele só vai “acontecer” quando tudo isso estiver funcionando e acontecendo ao mesmo tempo. Podemos dizer que, desde o advento da Internet, o metaverso está em franco desenvolvimento. 

Temos uma fascinante e incrível tecnologia como exemplo do quanto avançamos. A Metahumans, da Epic Games, cria, em poucos minutos, avatares extremamente realistas para o metaverso, incluindo modelos musculoesqueléticos mais realistas. Este nível de precisão seria impossível de ser pensado anos atrás – uma evolução assustadora do Second Life.  

Outro exemplo fantástico são os jogos dentro do metaverso. Uma parceria do Star Atlas com a The Sandbox já permite que as pessoas possam transpor as suas conquistas de um game para o outro. São tecnologias que têm possibilitado que a imersão no metaverso seja cada vez mais fluida e real. Não se trata de uma construção instantânea, mas que vai se aperfeiçoando. 

Crescente adoção por vários setores 

O metaverso é um mercado em expansão e cada vez mais setores – como medicina, educação, comércio eletrônico e arquitetura, entre outros – estão apostando nele. Temos hoje planos de saúde em que consultas acontecem virtualmente. 

Mas a área de saúde entende que a tecnologia pode potencializar ainda mais a relação entre médico e paciente. Já se debate a utilização do metaverso no planejamento de cirurgias virtuais, como meio de reduzir a possibilidade de erro, por exemplo.  

Estudo da Market Research Future (MRFR) projeta, entre 2024 e 2030, crescimento anual do mercado da saúde no metaverso em 48,3%. 

A cultura e o entretenimento abraçaram o metaverso

A cultura está explorando as várias facetas do metaverso, as suas várias formas de expressão.  Temos acompanhado grandes shows e exposições de arte acontecendo no metaverso. As pessoas estão vivenciando essas experiências como absolutamente reais – porque são! E estamos falando de espetáculos com grandes artistas. Já tivemos shows de Ariana Grande, David Guetta, Ed Sheeran, entre muitos outros nomes. E sabemos que a cultura tende a direcionar muito o caminho das coisas. 

Isso significa dizer que todos os shows foram um sucesso? Todos os eventos têm entregado o que prometem? O tempo para amadurecimento de toda tecnologia é essencial. Não tem como, instantaneamente, algo tão complexo estar em pleno funcionamento. É uma questão de alinhamento de expectativas. Mas, novamente, olhando para todas as evoluções que tivemos, o futuro é mais do que promissor para o metaverso.

Quando olhamos ainda produções audiovisuais, já existem testes adicionando formas do público adquirir coisas no mundo real que estão nas telas das produções digitais. Quem está assistindo um filme e se encanta pela roupa da sua atriz preferida, poderá pausar e acessar no menu da tela o lugar onde encontrar o item. 

Dizer que o metaverso “flopou” antes mesmo dele alcançar o seu auge é um obituário demasiadamente apressado para quem não consegue apreciar as verdadeiras conquistas e feitos tecnológicos.   

Os investimentos não vão cessar 

O dinheiro faz o mundo girar e o metaverso é um novo mercado a ser explorado. Mesmo diante de tantas “mortes anunciadas”, as empresas seguem apostando e investindo nele. Relatório do Citibank afirmou que a economia do metaverso tem potencial de crescimento de até US$ 13 trilhões até 2030. 

O banco JPMorgan estimou que o mercado total endereçável do metaverso alcance US$ 4 trilhões apenas na China. Nos Estado Unidos, segundo estudo encomendado pela empresa proprietária do Facebook, a Meta Platforms, o metaverso pode contribuir com até 760 bilhões de dólares até 2035 – cerca de 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB) anual. 

Diante de tudo isso, é melhor seguir com os cintos apertados, pois o metaverso ainda está decolando.